sexta-feira, 16 de maio de 2014

A nova “onda” do assédio

No mês passado a atriz Marina Ruy Barbosa teve fotos íntimas divulgadas na internet. A repercussão foi nacional, alertando as autoridades e as principais vítimas de assédio: as mulheres. Desde o início do ano, estes atos vêm ganhando cada vez mais atenção, principalmente em locais públicos como shoppings e transportes coletivos. Até março foram presos 17 suspeitos de abuso no metrô e nos trens segundo a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) de São Paulo. Os suspeitos usam celulares, câmeras fotográficas e micro câmeras para registrar o próprio abuso. 

Uma das formas mais comuns usadas pelos criminosos nos metrôs é o toque na vítima, principalmente nas nádegas ou nos seios, ou exibindo o órgão sexual masculino. Esse crime conhecido como “frotteurismo” (popularmente conhecido como “encoxar”, ou se esfregar em uma pessoa), é muito divulgado em redes sociais e está se tornando cada dia mais comum.

Embalagem distribuída no metrô em
São Paulo.
Para tentar combater esta onda de assédio, as feministas resolveram “alfinetar os abusadores”. Participantes do movimento Mulheres em Luta distribuíram no metro alfinetes com a mensagem “Não me encoxa que eu não te furo”. A tentativa é de coibir os suspeitos, conscientizando a população, para que as mulheres se protejam contra esses abusos. Em 2013, 100 mulheres fizeram denúncias após serem vítimas de agressões sexuais em ônibus, metrô e trens na cidade de São Paulo. 

E não é só nos transportes públicos que eles costumam “atacar”. Outro caso de assédio recente foi registrado no Shopping Colinas, na Zona Oeste de São José dos Campos. Um homem foi flagrado pelas câmeras de segurança do local fotografando partes íntimas das mulheres. O suspeito já estava sendo monitorado há uma semana e pelo menos três mulheres foram fotografadas por ele em seu celular. A última vítima foi uma mulher grávida.

De quem é a culpa?

Câmera de segurança em shopping flagra homem
praticando assédio. Imagem: Reprodução.
Em março uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 3.810 domicílios de 212 municípios abrangendo todos os estados, causou revolta nacional. Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas? Essa era uma das perguntas da pesquisa. No primeiro resultado divulgado em março, 65% concordavam que mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas.

O resultado gerou polêmica nas redes sociais, destacada por alguns como a principal causa desta onda de violência. A jornalista Nana Queiroz, 28, criou o movimento #EuNãoMereçoSerEstuprada, em que mulheres de todo o país postaram fotos empunhando cartazes em repúdio às agressões. 

No início de abril, o Ipea divulgou uma nota retificando os números da pesquisa. Na verdade, 26% dos entrevistados concordavam com essa afirmação enquanto 70% discordavam total ou parcialmente da frase. O erro ocorreu pela troca dos gráficos relativos ou percentuais das repostas de outra pesquisa. Dos entrevistados, 66,5% eram mulheres.

“Mesmo assim, 26% ainda é um número muito alto. A nossa campanha continua”, afirmou Nana ao ser informada sobre o erro da pesquisa pelo Estado, durante uma reunião com a Polícia Federal. 

Nas redes sociais

Foto: Mariana Farinha. 
“Participar de redes sociais se tornou o equivalente a existir. Praticamente todas as esferas da vida encontram-se disponíveis no mundo virtual: trabalho, estudos e relacionamento”, afirmou a socióloga Vanessa Nunes. O problema, segundo ela, não é somente a exposição ao vício do uso exagerado dos “gadpet” (dispositivos eletrônicos portáteis) e de redes sociais, mas o símbolo que permeia a maioria do uso e da própria existência das mídias sociais que é a transformação do ser humano em mercadoria.

As cenas dos assédios vão parar no Facebook, no Youtube, blogs e até em trocas de mensagens pelo aplicativo WhatsApp. Nas páginas de encontros desses "encoxadores" é comum encontrar vídeos de partes íntimas de mulheres. O grupo “frotteurismo” que tem 3.293 membros, por exemplo, incentiva abusos sexuais no transporte público nas redes sociais. Costumam atacar geralmente em locais com grande concentração de pessoas – como metrô, ônibus, calçadas e elevadores por possibilitar um contato mais próximo com a vítima, facilitar a fuga ou dificultar o reconhecimento. 

"Tem muitas páginas que incentivam esse tipo de ato. Estamos rastreando quem publica as imagens para tentar prendê-los", afirmou Osvaldo Nico Gonçalves, delegado responsável pela Delegacia de Polícia Metropolitana de São Paulo (Delpom).


Por Benaya Vancine e Luiz Gustavo

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